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sábado, 16 de julho de 2011

Descoberta



Como materializar-se a perfeição?
Algo tão abstrato, sutil e complexo
Como?
Mas como?

Nas curvaturas de um corpo
Nas peripécias de um amante
Na sutileza de toques mutuamente carinhosos
Nas certezas, nas incertezas...

Nesse amor tão singular, tão próprio
Na fugacidade material
Na necessidade material

Machuca-me, corrói-me,
Cura-me, acalma-me,
Derruba-me, prende-me,
Levanta-me, liberta-me.

Nessa tão sólida base quanto as peculiaridades de um olhar singelo
Nessa fusão entre abstrato e concreto
O errado e o correto
O poeta jaz quieto

Quietude que o ilude
Virtude mesclada à atitude
De sofrer na solidão

Solidão subordinada à paixão
Fusão de consciência e coração
Equilibra-me, tão custosa perfeição.

Assim transforma-se o beijo amigo
Num coração partido
A trêmula mão sobre o corpo da mulher despida
No longo e profundo suspiro de despedida.

Quero-te a todo o momento
Deveras belo fora o curto tempo
Em que minhas tu fosses
E agora me restam apenas lembranças de sorrisos doces.

Nessa efemeridade sem pudor,
Teu calor,
Teu sabor.

Sinto, escrevo e partilho minha dor
Temo eu estar descobrindo,
O que de fato é o amor.

(Eduardo R. L. Vieira)

terça-feira, 12 de julho de 2011

Versos



Palavras, meras palavras
A simplicidade complexa de uma oração
Crer, verbo intransitivo
Verbo, dele fez-se tudo

Fogem definições
Prepotência humana
Homens falsamente subordinados
Desconhecem, apenas desconhecem

Antagonicamente sobrevivemos
Ínfima e efêmera matéria
Prazeres, apenas pseudos-prazeres

Cremos no Verbo
Subordinamo-nos a ele
Tememos, apenas tememos

Somos o Verbo
Igualitariamente partilhamos o Uni(Multi)verso
O Nada e o Tudo, apenas versos

(Eduardo R. L. Vieira)




Lá onde não fomos
Lá onde tememos
Lá aonde iremos
Lá...














(Espaço...)
Espaço entre os espaços.

(Eduardo R. L. Vieira)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tédio


Tédio assasino
de quem dorme
e não bate o sino

Tédio exaustivo,
de cansaço vivo a vida
de tédio eu, apenas, vivo!

Tédio enlouquecedor
música chata,
ensurdecedor!

Tédio!
médio!
prédio!

Cansado assédio
de um
tédio!!!


(Gustavo Machado)

domingo, 10 de julho de 2011

Anti-criatividade


Ah! quem dera os tempos de outrora
tempo em que a criatividade nuca ia embora
ficava e pronto, pairava sobre a minha imaginação
e desfrutava o que pro teto pulava do chão

Ah! que saudade eu tenho dos meus tempos ativos
de criação em ponto máximo, e não no mínimo
mas bem agora que preciso, caio ao passivo
com produções independentes sem estímulo

Eu sinto falta de sentar e escrever com agilidade
sem pensar nem digerir uma linguagem
de tocar os cânticos dirigidos sem ansiedade

Mas voltarei em breve, penso eu, de uma viagem
cansativa e sem tempo de passagem
para as ideias, tempo e pausa, coisa de idade

(Gustavo Machado)

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Sem dormir



Vida atormenta-me
Sono foge-me
Insônia acha-me

Coso papéis no tear da vida
Felizardo teatro

Personagens vivem,
Personagens morrem,
Personagens dormem.

Espectadores, meros espectadores
Ignorância tão desejada e respeitada

Tremulação de mãos,
Tremulação de espírito,
Tremulação de ideias.

Comunico-me com multiversos
Não mais.

Vida apresenta-se e se esvai.

(Eduardo R. L. Vieira)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Participo(io)



Expandido de si mesmo
Anotar o exprimível em deleites do eu-vivo.
Querer, exatamente, sair pela fenda menos torrencial
A chuva veio e lavou a aurora do jardim-antes-fosco.

Limitou a consciência exaurida de palavras tortas
Tocaste o tamborim ao limitante que sambou  sem fala ou cochicho.
Então, expandiu  outra vez : Agora sim, será para além de nossos punhos.
                           (...)
Será breve o som que maestrará os passos cadentes
Serão as estrelas, de repente
Uma égide de papéis diferentes.

Transcenderão os nós-próprios
Dos laços eternos e nossos
Que, minuciosos, tecemos.

Brindaremos as palmas e os bem-dizeres
Para refazermos os nossos seres
Em teares cintilantes.

Não hemos de mover, sequer, um instante
Para voltarmos feito antes
Ao ser, aquele, distante

Ataremos nossos sonhos
Às  escrituras outrora ditas
De paródias auto-descritas
E ao que ficou estagnado

Roubaremos do tempo
 O seu maior desalento
Os laços, os afagos e os mundos
Que um dia estiveram juntos
Em um só ser profundo
De caricaturas e risadas.


(João Paulo Martins Ferreira)