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domingo, 20 de março de 2011

De A a Z

(Lucca Moretti)

Adiando o amor com audácia em azar

Banalizado na bondade benta em brasa
Contida com caules cercados no chão
Desgraçada devido à divina disposição
Estranhando exatamente esse ensolarado exílio
Finalmente falando feito felizes fantasmas
Garantindo o gasto gerado pela gestão
Hipnotizado, hostilizado, como um honesto homem
Indicando o início de indígenas Incas
Justamente jazidos com jarros floridos
Lamentável, lidos lentamente por laços letais
Mastigando o mato maleável e mesclado
Na natureza nítida nunca notificada
Oh! Onipotência obtida e olhada por olhos omitidos
Partirei passando por planetas pacíficos
Querendo questionar quem quer queimar-me
Ratificando o rótulo raspado do ramo
Solidificado, sem saber se é ou se será
Tempos tendenciosos e tentativas a temer
Unificando a utilidade da última unha
Venerada e com vontade valiosa de ver
Zumbis zangados zerando o zunido feito pelo som do universo.
Nunca irei esperar que a partir de quando comecei a produzir o que penso, um dia, isso venha a se tornar fruto de máquina capitalista de dinheiro e que me faça enriquecer apenas com as idéias que já foram postas ou pensadas por várias pessoas e que nunca foram ouvidas ou se quer mencionadas por essas próprias pessoas ou outras pessoas de seus próprios convívios, pois todo tipo de texto, redação ou poesia, vem, mesmo sem a intenção, de várias tipos coisas lidas e de conhecimentos adquiridos ao longo da leitura que foram repassados por décadas e que querendo ou não, chegam a ser um ciclo vicioso, gerado pela indignação ou frustração das pessoas em relação a qualquer tipo de assunto, ou não; também sendo colocado de uma forma positiva em satisfação a também qualquer tipo de assunto. 
Espero me rebelar, criticar, apoiar e fazer todas essas manifestações e ser lido com uma intenção de melhora, com uma visão de: “olhe a onde o mundo está indo parar”. E quando me refiro a mundo, me refiro a tudo mesmo.
Hoje, nada mais é valorizado. Não existe mais família, não existe mais rebeldia por melhora de algo que está podre e corrompido, a cultura e arte, tendem a se rebater no espelho com coisinhas vividas por pessoas que não sofreram e que estão refletindo em seus trabalhos o quão decadente está a vida deles. Ninguém mais busca um ideal digno, valorizando as coisas pequenas e boas da vida, procurando se manter bem com a família, os amigos e as pessoas de seu convívio. Há uma grande competição entre as pessoas. Um sempre quer se sobre sair mais do que o outro com qualquer tipo de coisa: Carros, roupas, pertences fúteis e que na realidade acabam não sendo usados adequadamente e sim, usados como objetos de valores morais.
Então realmente se isso continuar e ninguém tentar mudar nada, como antigamente, onde as pessoas se sentiam incomodadas e faziam coisas diretamente ou indiretamente para dizer: “Porra, isso não tá justo, isso não tá certo”, a onde iremos parar?
Realmente, antigamente era bem melhor. Hoje em dia até as drogas, que foram o maior objeto de rebeldia e protesto, estão sendo usadas a troco de nada, por diversão e muita das vezes, por pessoas que não sabem realmente onde estão entrando e acabam fodendo mais com o país.
Então pessoas que um dia cheguem a ler esse texto crítico de desabafo: “Protestem, mudem, pensem, escrevam, façam algo de produtivo para o mundo além de gastar os seus benditos e sucedidos salários com empecilhos por não ter a onde mais enfiar dinheiro e olhem embaixo de seus apartamentos luxuosos o mendigo que passa frio e que tem que se sustentar com uma cachaça pra não passar frio, que não tem o que comer e que luta por uma sociedade mais justa e honesta. 
Esse é o grande erro do mundo, ganância.

Lucca Moretti Rios

Por quê Anti-Social

(Lucca Moretti)

Por que ninguém sabe se respeitar?
 
Por que existem mil por quês sem respostas para nos deixar a desejar? 
Por que o maluco tem que respeitar
E ao ponto do mesmo, a sociedade só tem a desejar? 
Por que ninguém aprende a amar e compreender as pessoas como são?
Por que os protestos muitas vezes são em vão
Por que a adolescência é vista como inválida perante à sociedade? 
O que a cabeça tem há ver com a idade?
Por que temos que ganhar dinheiro para sobreviver? 
Por que é tão cruel, injusto e ao mesmo tempo, pra outras pessoas, o importante mesmo é viver? 
Por que as idéias do todo, não são aceitas e juntadas para um bem comum?
Fazendo-se assim paz a um
Povo!
Um povo que merece ser feliz.
Que virem os canhões para suas próprias margens
Está na hora da bomba estourar nas faces
Faces de quem não quer mesmo entender
Por quê?
Só desejaria que todo porquê fosse respondido
E que o soluto de tudo isso, fosse apenas nítido.

Angústia

(Lucca Moretti)

Tempo que não passa

Com sede de vingança
A espera é momentânea
De um tempo sem esperança

Esperança da chegada
Desamparada, desabrigada
Sem ter opção,
Vagando acompanhada pela solidão

Deito, levanto, espero a hora chegar
Porém tudo que consigo é ver um minuto andar
Devagar, sem pressa para trabalhar

Então novamente, vejo o minuto se repetindo
Mais lento ainda que o anterior
Rendo-me, tempo! Estou a seu dispor
Estou fraco, não estou conseguindo...

Fui pego pela leve brisa que me levou para sonhar
Em frações de segundos o tempo vem a disparar
É hora de acordar...
Tédio.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Into The Wild

(Gustavo Machado)

Julga-se fácil a vida
quando se quer viver sozinho
porém há obstáculos na mesma
que dificultam nosso caminho

E por mais aventuras
que se possa viver
com viagens solitárias
para o bem do ego, do ser

A solidão nos intimida
de forma a dilacerar nosso corpo
e corroer nossa vida

Conhecimento é preciso
mas nem sempre é o bastante
para se viver sozinho

Possibilidades

(Gustavo Machado)

Possíveis relações
entre o presente e o futuro
perfeitas adaptações
do claro ao escuro

Várias interpretações
sobre ser ou não ser
grandes decisões
sobre onde ir e o que fazer

O mundo e suas possibilidades
as coisas falsas e suas verdades
já estamos nos adaptando
ao bonito e ao mundano

Briot-ruffini, regras matemáticas
os pensamentos e suas táticas
o mundo gira em torno disso
entre regras e compromissos

Termos nobres, filosofia
inteligência já tardia
não somos mais bem vistos
pela humanidade e seus cistos

Apenas as grandes possibilidades
as diferenças e as igualdades
o mundo está se adaptando
ao que fere e é desumano

Solidão

(Gustavo Machado)

Perco-me na escuridão,
reflito sem esperança
meus pensamentos em vão
são movidos por vingança

Sinto não poder mais controlar
a expressão do meu ser,
e por medo começo a me revoltar
sem animo de viver

Acordo e vejo um longo dia
cheio de solidão e tristeza,
tento fugir de minha rebeldia
tornando-a minha maior fraqueza

Estou perdendo o sentido de tudo
estou vivendo sem pensar no futuro
minha vida me deixa confuso
não sei se fico ou se morro nesse escuro

Mulher

(Gustavo Machado)

beleza inconfundível
traços de perfeição
corpo alongado
formato de violão

e como roger, ultraje dizia:
"...eu gosto é de mulher..."
e completando, neguinho da beija-flor:
"...mulher, mulher, mulher. Ô, mulher..."

carne sagrada, me torno antropófago
apreciador de mulher, física e com muito amor
me torno louco só de pensar no assunto
seja todos os jeitos, mulher de toda maneira

e exalto de forma gloriosa a mulher de todos os tempos
grande, pequena, idosa, jovem
são todas nossas rainhas
mães da nossa pátria, de todas as nações

Fracassada Ação

(Gustavo Machado)

Caminhos não percorridos,
destinos não destinados,
a vida é um paraíso
e o inferno está ao lado

Objetivos não atingidos,
sonhos não conquistados,
nos encontramos em paz interna,
com destroços aos nossos lados

Desejos não satisfeitos,
obseções não dirigidas,
vivemos em momentos
onde a morte segue a vida

Negativo no positivo,
delírios e sentidos;
procuramos ser diferentes
nesse mundo de desperdícios


Tentamos fugir
da realidade que nos prende
e com fracasso agir
de modo que não surpreende

Espera e Precipício

(Gustavo Machado)

Carne dilacerada pela angústia
e a saudade começa a doer em meu corpo
como algo que me falta
que distante está há tempos

Veneno corrosivo pela falta de presença
anti-raciocínio de meu corpo e minha alma
e eu já não sou mais o mesmo
uma parte de mim está dissociada

Separação? Separação gera solidão
essa não me chegou a bater
pois minha mente está casada
o separar é para velhos

E pensar em desistir. Pra quê?
ainda não conheço seu corpo, seu agir
a resistência é maior
penso mais em persistir

Não é necessário adiantar momentos futuros
pois só os originais serão os melhores
a precipitação é o corte de um caminho
da qual pode não ter fim

Seria então precipício essa precipitação
não é saudável vivê-la
melhor é esperar
pra que um dia a hora chegue

Mas a tentação é um tanto forte
esperar me dilacera
e cada vez mais distante está
meu corpo do dela

O destino é certeiro
não tem hora nem lugar
um dia nossos caminhos
virão a se cruzar

No momento espero
esse tempo lento passar
e aquele 'algo' que me falta
a distância só me faz amá-lo

A natureza do distante
é tão bonita, no entanto
porque o pensar de um para o outro
só faz com que nos ligamo-nos

Por isso precipitar é precipício
pois tardia ou nunca
esse sentimento irá chegar

O natural é mais agradável
pois sente tudo de bendito
que o precipício não vive, então

Doce Veneno

(Renan Ramos)

Doce veneno que corre nas veias
Chega ao coração com forma de destruição
Faz com que agimos erradamente
E perdemos o censo do certo

Doce veneno que amarga a boca
Que destrói amizades com pequenas palavras
Palavras simples para quem fala
Mas que geram feridas para quem ouve

Doce veneno que semeia o mau
Que distorce histórias da vida
Que acaba com a vaidade
E transforma o concreto em ilusão

Doce veneno que existe em nós
Que aos poucos vai crescendo quando não amamos
Gerando frutos podres e uma vida de erros
Transformando o que a de bom em inveja barata

Doce veneno que nasce com todos
Mas evolui através das pequenas futilidades
Crescendo como um câncer maligno
Até que destrói sem que percebam

Doce veneno que nos transformam em monstros
Que nos fazem esquecer do bem maior, a bondade
Criando enigmas indecifráveis
que contribuem para um grande fracasso

Descanse em paz


A vida a cada dia se encurta
E a mente se desgasta
Já me sinto cansado
No fim dessa grande jornada

O corpo pede descanso eterno
Sem a preocupação com a matéria
Mas com uma única certeza
De que alma já esta purificada

Quero acordar do sonho que vivo na terra
Pois sinto que a vida começa depois do despertar
Colheremos frutos plantados nos nossos sonhos
E caminharemos na trilha da evolução

Pediremos perdão dos nossos erros
E seguiremos o desconhecido
Com a intenção de achar algo melhor
Algo que não seja uma grande ilusão

Renan Ramos.

"Brasilinha"

Pra que correr atrás da vida
Se lá na frente
Depois daquela curva sinuosa à esquerda
Tem outra curva sinuosa também à esquerda
E depois outra à direita
Onde meu coração vai capotar

(meu coração, definitivamente, não usa cinto de segurança
E já foi multado quatro vezes por excesso de velocidade)

Licínio Rios Neto

Jardim

(João Paulo M. Ferreira)

Na ponte do jardim transcendental
Povoavam-no fantasmas turvos
Que caminhavam por entre as rosas e os lírios mal-compridos.
O orvalho e a fuligem salpicavam os galhos que, frente ao sol,
Entravam em processo de ressecamento.

Era o ressecar... ressecar.

Perguntei, um dia, à um fantasma:

- Se és tão transcendental, e admiras tanto este jardim, porque me trazes, de café, este copo de não-companhia ?

Dentre a fuligem, e o orvalho, o fantasma esvaneceu e minha resposta perdeu-se ao léu do jardim.

Decidi penetrar, enfim, o jardim que só admirava de longe. E lá vi os fantasmas, e a vasta beleza das orquídeas e dos lírios que os mesmos contemplava.

Decidi perguntar, de novo, à um deles:

- Porque me trazes, de café, um copo de não-companhia, se tu és tão puro quando observas este vasto e transcendental jardim

Obtive a resposta de um deles que colhia flores :

- Assombro-te. Serei permutável, pois, em toda tua vida. Não admitirei nenhum tipo de repulsa ou contraponto. Serei coercivo, condenando-te à loucura e ao desespero. Meu nome é simples, e minhas respostas nunca irão lhe fazer ver à luz. A não ser aquela, distinta de matéria, longe, longe do que se pode tocar.

Meu nome é imensidão, e o teu, pobre ser, é humano.
                                        
                         (...)


Os fantasmas ainda permeavam pelo jardim
As flores ainda eram colhidas
Do jardim, surgiam novos brotos, novas relvas, novas fuligens e novos orvalhos
Só não se diversificavam os fantasmas

Estes, ou a imensidão, eram imutáveis.

Passa-tempo

Passa-tempo, tempo passa
e vai matando nossa vida
vida morta, assassinato
o tempo mata, para a vida

Passa tempo devagar
sem pensar, sem agir
passa tempo a parar
tenta a vida desistir

O tempo é assassino,
a vida é sua vítima,
a cultura entra em colapso
morte é tempo, tempo é vida

Morre, nasce, morre, nasce
o tempo nunca, nunca para
e num olho uma piscada
mata a vida, o tempo para

Morro ontem vivo hoje
o amanhã já se prevê
e pro presente a gente trás
um passado para viver

O tempo passa, passa-tempo
passa a vida de repente
passa o choro, passa a vela
passa a fome, passa a gente

O tempo passa, passa-tempo
passa a morte lentamente
passa a dor, passa a angustia
passa a vida de repente

O tempo é assassino,
a cultura é sua vítima,
a vida entra em colapso,
morte é tempo, tempo é vida

Gustavo Machado.

Yesterday

(Gustavo Machado)

Delírio de um outro plano
a insônia acaba por dormir
o descansar de imagens coloridas
imaginação com viagens lucrativas

Conhecimento natural e subjetivo
teorias mundiais sobre si mesmo
um trago de uma fantástica natureza
com portais dimensionais ao encontro de novas belezas

Sintonia de loucuras ousadas
e ideias sobre tempo, alucinógeno
complemento de vidas passadas

Passado a viagem de um som eterno
o "pí" ainda fica nos ouvidos
e a admiração de ter feito algo bom

Verdade realizada

(Gustavo Machado)

Enfim, do desejo fez-se o físico
do físico fez-se o carinho
do carinho fez-se a união
da união fez-se o amor
do amor fez-se a verdade
da verdade surgiu nossos corpos
fundidos pela saudade
de nossos sentimentos expostos
de, simplesmente
constantemente
intensamente
A-M-A-R

"Falso-Soneto" do Maluco

A insustentável leveza do ser
E a insuperável beleza de ser
Tão louco quanto o tempo
Seguindo a direção do vento

A admirável chuva de ver
E a abençoada água de beber
Que nos dá saúde e vida
Que nos dá conforto e leve brisa

Brisa que gera vida
Água que gera chuva
Vento que leva tempo

Suave loucura de viver
Vivendo a insuperável beleza
De uma insustentável leveza de ser: "MALUCO BELEZA”



Gustavo Machado.

Saudade

E a saudade bate no peito,
a favor do coração
pulsando por entre minhas veias,
esquentando meu corpo
e apertando meu sentimento
de solidão

E a cada passo, mais distante fico dela,
a tão doce amada,
que provoca em mim e, de imediato se revela,
o amor tão profundo,
que floresce de minhas entranhas
para com ela

E vai crescendo, nunca para,
à medida do amor, a saudade aumenta
e como a saudade, é despida
a angústia, pois o beijo me falta,
o abraço me condena
e sua suave mão desprende-se de mim
em um raio de 200 km,
onde a distância me faz prisioneiro
de minha própria paixão

Será impossível o reencontro de nossos corpos?
Será que ficará só em ideais?
Com um papel e uma caneta,
o desabafo é intenso,
mas não contém tudo que sinto,
pois só em carne se faz real

Esperar é a única opção
e, espero que não demore,
pois a deterioração do meu ser
é demais, quando distante está
o meu corpo do dela

Gustavo Machado.

Ron Johnny – Revelação sobre uma vida

Já não sei mais onde consegui chegar e nem mais o que posso provocar. Entre drogas, sexo, rock’n’roll e solos de guitarra, perdi-me em um abismo da qual não consigo mais voltar. Motivos? Não existem motivos, apenas a louca ansiedade por quer me aventurar.
Tenho 26 anos aparentando um sujeito da qual poderia, ou até deveria estar internado em uma clínica de reabilitação e, às vezes me perguntam por que não procurar o mesmo e respondo, com um ar de fraqueza, que é pelo simples e triste fato de não conseguir chegar até lá.
Nasci em 1965, em um pequeno vilarejo da cidade de Rockford, nos Estados Unidos. Por lá morei até meus 14 anos, onde me batizaram pelo nome de Ron Johnny - dizem meus pais que se inspiraram em uma marca de roupa – e logo após fui morar na capital Chicago.
Até meus 14 anos vivi momentos de pobreza e angústia. Tendo nascido em um pequeno vilarejo, não conheci mais do que 20 pessoas que moravam na vizinhança. Meu pai na época encontrava-se sem dinheiro, o que trazia dificuldades financeiras para dentro de casa, minha mãe sempre cuidava da casa e tentando conseguir alguma coisa, eles sempre rezavam para um Deus lhes darem as necessidades básicas, o estranho que sempre reparei é que nunca ganhava-mos nada. Cansado de sempre presenciar a mesma vida monótona de pobreza e de enganação por um Deus que nunca conheci, sai de casa com 14 anos e fui morar em Chicago, onde poderia conhecer pessoas novas, coisas novas, uma cidade nova e tentar me aventurar ao máximo naquela imensa capital.
Entre caminhadas e estradas cheguei ao local que tanto esperava, a grande Chicago, o lugar onde realizaria meu sonhos, onde poderia conhecer, me espiritualizar, experimentar do que tantos diziam ser bom, a vida. E como não fosse tanta sorte, arrumei um emprego no meu primeiro dia na cidade, trabalhando como atendente em uma mercearia e, por lá mesmo consegui moradia em um pequeno quartinho que o dono do estabelecimento sedia aos novos empregados que chegavam de novas cidades. Lá pude ter agradável sensação de poder ter meu próprio dinheiro, minha própria vida.
                Ao lado da mercearia havia uma loja de instrumentos, em que todo dia no meu serviço podia se escutar as várias batidas suaves da bateria, o afinado solo de uma guitarra e o dedilhado inigualável do teclado, com isso passei a tomar gosto pela música e sempre que podia ia ver os instrumentos à venda e os rapazes tocando. Em pouco mais de três meses juntei meu dinheiro e comprei uma guitarra e conhecendo novos amigos na noite montei uma banda onde tocava-mos rock-blues. A banda se chamava The Revelations e passamos a fazer shows em bares e boates. Com todos esses shows pude conhecer aquilo que nem esperava existir, algo que me abrira de tal forma da qual nem eu sabia que podia acontecer, a chamada maconha foi a primeira droga que experimentei e com absoluta certeza fez diferença em minha vida.
                Por entre outros caminhos e novas cidades, com um pouco mais de idade, já com 17 anos, já tinha passado por várias experiências, como: maconha, cocaína, LSD, ácido lisérgico, anfetamina, metadona, heroína, enfim, entre outras drogas que acrescentaram em minha vida, ao meu modo de pensar, conhecimentos da mente que então não sabia que existia, pude me aprofundar em mim mesmo, conhecendo muito mais do meu ser. Já produzindo músicas novas, gravamos nosso primeiro disco, com o título The Revelations e estávamos nas paradas de sucesso com a música “Real Abstract”. Então fizemos uma turnê do disco pelo país, que foi onde comecei a fazer uso compulsivamente da heroína.
                Conheci uma garota chamada Alice em um dos shows que fazíamos em Nova York, que até atualmente estou casado com ela, foi a pessoa com o qual mais me identifiquei e com passar dos anos gravamos mais três álbuns em estúdio e cinco ao vivos.
                Já com 23 anos me internei em uma clinica de reabilitação para fazer os gostos de Alice. Em 1990 retornei à banda e gravamos mais dois discos, fazendo turnês mundiais agora. No entanto, entre uma turnê e outra eu fazia o uso da heroína em pequenas quantidades para me dar animo para tocar nos shows e foi assim que cheguei até hoje, 1991 viciado novamente em heroína, mas agora com problemas mais graves, depressão, câncer no coração e, em estado de vegetação em uma cama deitado escrevendo essa autobiografia de quem nem sei quem sou ou quem fui e,  eu meu pergunto, com um tom de tristeza de não poder voltar atrás, porque sai de perto dos meus pais naquele pequeno vilarejo de Rockford?  E me respondo que não foi para me aventurar, como dizia antes e sim para me matar.
                Hoje estou aqui, no dia 7 de agosto de 1991, deitado em uma cama não sabendo se vou morrer hoje ou amanhã ou simplesmente em um dia qualquer que seja próximo, só sei que em minha vida que por mais que seja bom, divertido, agradável, toda aventura extrema causa morte, o porquê disso, não sei. Aliás, pra que saber, são com erros que descobrimos os fatos.
                Disseram-me um dia que a maior beleza da vida era a própria vida e hoje vejo que a vida só é bela sabendo administrá-la, foi o que não soube fazer. Mas mesmo assim não me arrependo de ter feito o que fiz, sem essas coisas não seria o grande Ron Johnny que virei, só sei que, por não ter administrado minha própria vida, estou hoje, sendo o velho Ron Johnny de 26 anos deitado em uma cama, com meu corpo violado pelo meu próprio ser esperando o dia de minha morte chegar.

                “Ron Johnny morreu no dia 21 de setembro de 1991 vítima de infarto fulminante. Seu corpo foi enterrado no pequeno vilarejo em Rockford, onde nasceu e na lápide encontra-se a frase que serviu de motivo para a vida dele: ‘Só quero ter a louca ansiedade por querer me aventurar’”


Gustavo Machado.

O Vão

(Lucca Moretti)

Pensamentos que vem, mas logo se vão
Tão rápido e as vezes não há tempo para discussão
São Críticas, conceitos, rebeldia, indignação
E um dia tudo se vai, se vai, se vai
De maneira a ser esquecida em um poço de solidão.

O vão é solitário, imerso,
Absorve de maneira imediata, sem pensar, como os meus pensamentos,
Pensamentos que foram criados e indagados a uma solução,
Uma solução muito clara e que as poucos vai sendo corroída,
Corroída pela escuridão, pelo esquecimento que aos poucos é causado pelo vão.

Pensar e começar, porém nunca saber a que hora o vão entrar
Perdidos ainda ficaremos e um dia chegaremos a proeza tão esperada:
Vão.

Nota em letras

Só sentado em sol
sentido em mi
correndo em dó

O lá está distante
o fá nunca foi feito
e o si virá a questionar

Será?

As notas também falam
se calam em palavras
mas cantam para mostrarem
o doce prazer da vida
despido sem hora de passagem

A harmonia precisa do conjunto
sem sol não há dó
sem fá nada está lá
o si se completa com o mi

Mi quer ser fá distante de lá
sem dó de sol
se esquecendo da nota sem rima





Lucca Moretti.

Mor-ria

(João Paulo M. Ferreira)

Morra em mim
 
Rasgue-se com a lâmina púrpura 
E penetre seus pedacinhos semi-dissolvidos em meu sangue 
Ou guarde, quem sabe, alguns vestígios 
Para embeber-me; vinho amargo, ou café tinto. 
Morra em paz 
Estraçalhe-se frente à um espelho cor-de-anil. 
Veja os traços, as marcas do decepar 
Decepe lentamente. Faça símbolos, sóis, estrelas,noites,gritos. 
Mas faça em si própria. Pense. 
Agora ria. 
Escárnio embebido pela madrugada. 
Juntes os pedaços, os retalhos, os ossos, os sangues. 
Una. Sinta o furor dos gostos misturados. 
Tente ressurgir. 
Faça cinzas, brilhantes, ou jornais que possam não-lhe-devassar. 
Devasse-se. 
Peça perdão. Enfraqueça a si própria. 
Contorne o auto-ego. 
Então, suprima tudo. 
O estilete, o espelho, os cacos, os pedaços, as vertigens e 

os 

sóis. 

que, por inquietude, ascendem as chamas auto-nós-destrutivas. 

Morena

(Gustavo Machado)

Morena dos olhos negros
e madeixas compridas, escorridas
fizeste-me tão bem
tua companhia me conforta
ver-te-ei teu sorriso, estampado
no rosto, refletindo o meu
por estarmos inteiramente juntos

Seus olhos, em seu rosto, estão em minha mente
constante,
não quero perder-te há nenhum instante,
menina da pele índia
da qual com o laço a cavalgar
agarrou meu coração
fazendo-lhe seu pertence

E lhe dou exclusivamente
pois desejo o teu também
doce morena minha,
pequena italiana minha
quero-te eternamente

Perder-te, em minha cabeça não passa
pois minha vida passaria a ser escassa
vegetaria sem, em minha vida, tua presença
minha pequena princesa
quero fazer de ti minha crença

E de nossas vidas fiz metáfora
o peixe e o aquário
feitos um para com outro
como metades de uma laranja
que distante estão agora
mas que breve estarão a se encontrar

O desejo da carne está aflorando
e minha convicção por ti é cada vez mais,
por mim, intensa
e te quero tanto, e dizer
a ti, razão do meu viver:
EU TE AMO!

Lição

(Gustavo Machado)

Leve o que pertence a nós, o que pertence a eles, o que pertence a Deus

esqueça o que elas disseram, que um dia dirão, que dizem ser teu
pense no que valerá, no que já valeu e já não vale mais
o amor é conseqüência de quem um dia já amou, ama a distancia, desejos carnais

Siga o rumo da história, parte pra outra experiência, experimente, viva
pense em todos os rumos, em todos os trajetos de paixão e vida
lembre de todas as novas, as velhas e recentes histórias
parte dizendo tchau, adeus, já fui, de vindas, de glórias

Nunca fui tão seguro, pensei no futuro em momentos reais
perdi tanta coisa querida, que em momentos da vida não quero perder mais
quero conhecer esse mundo, o presente e o futuro sem pensar no amanhã
contradições de idéias, fontes modernas de artes tão vãs

Pense no que já mudou, que está mudando, que ainda vai mudar
aglomere todos os tempos: passado, presente, futuro, tudo à comparar
esqueça o que já passou, foi pura besteira, pura inocência
ajeite sua vida, viva com quem ama, com pessoas em sua convivência

Nunca fique sozinho, solidão é a maior inimiga do amor
sempre esteja com alguém que se possa confiar e dizer "quem eu sou"
viaje em imensidões de sua nobre beleza e inteligência
escreve, pinte, dance, faça arte com sua consciência

Nunca pense que não pôde, que não pode e que não poderá
nunca julgue sua pessoa, pois logo mil irão te julgar
pense positivamente, esqueça o presente ou fontes materiais
viva a natureza e a pura beleza de sermos todos animais

Ajude pessoas que conheceu, que conhece e ainda conhecerá
conheça gente nova, interage, mude seu modo de pensar
não seja nojento com um andarilho que lhe pede aconchego
ajude-o com um ombro amigo e aprende com ele a ser do mesmo jeito

Quantas vezes já fiz besteira e quis voltar atrás
a vida é assim, cheia de impactos e obstáculos
                                                         [que em nossas trilhas deixam sinais
quantas vezes pensei, escrevi e já não sei porque é tão vão
tantos pensamentos que caem em abismos sem fundo e sem chão

Conheci muita coisa, que gente mais velha que eu nunca conhecerá
abri um portal da minha mente, onde os 90% começaram a liderar
abri as portas da percepção que o ser humano ainda há de conhecer
pensei, falei, vivi, fiquei consciente musicalmente sem saber o que viria a acontecer

E por que isso aconteceu? por que um chuvisco de idéias é pouco pra mim?
porque eu experimentei, vivi. e por que não tenta isso, também, para contigo?
abrange seus conhecimentos, conheça o que está por vir e relaxe sem exaltar
a vida é muito curta, conheça tudo aqui para em outros planos conhecer mais.

Leve Pluma

Leve pluma vai ao vento
Sem saber o seu momento
Sobre o tom de um cata-vento
Voa na direção do vento

Voa leve, Voa lento
Pluma mágica, a favor do tempo
E numa brisa, breve, dentro
Uma área de apartamento

E pára lá, tudo ao seu tempo
Sobe e desce sempre lento
Em constante a favor do vento

Leva tempo o movimento
E sobre um banco, meu assento
Vejo a pluma levada ao vento

Gustavo Machado.

Lara

(Gustavo Machado)

Nos teus olhos vi cristais
na tua boca vi mel
no teu corpo vi beleza
no teu ser vi inteligência
no teu cabelo vi charme
em nós vi amor
eterno
infinito
simplesmente,
AMOR!

Escada

Sobe e desce interminável
Essa escada não tem fim
Minhas pernas já se cansam
E eu não encontro mais o fim

E agora, o que eu faço?
Onde é que eu vim parar?
Essa escada nunca acaba
O meu corpo vai desabar

É uma maratona escadalística?
Ou um labirinto com degrais?
Eu desço e subo essa escada
E não consigo nem sinais

Pontuação. Exijo, se for cobrado
E dinheiro, pois meu corpo não é de ferro
Infinito seria esse trajeto
Morrer seria um privilégio

E quando subo penso em igrejas,
Escadarias de catedrais
E já desvio o pensamento,
Pois me canso só de pensar
Em ver o padre falar,
Quanto mais subir escadas
Pra ladainha começar

E quando desço penso em inferno,
Mas essa escada não tem dó de mim
Desço e passo pelo cemitério
E esse início e meio não tem fim

Seria um fundo sem poço
Essa maratona escadalística
 (ou labirinto com degrais)?
Talvez o começo de um mundo,
O escorrer de um esgoto,
Como pensavam os antigos
Que representavam o mapa Mundi
Como um mundo em forma de disco,
Onde os oceanos caem
E os elefantes os sustentam

O clima está mais úmido
Creio que seja isso
O mundo é plano
Estou chegando ao seu princípio,
Ou talvez precipício

Só não parem a pontuação
E aumentem o meu prêmio,
Estou prestes a descobrir
Algo interessantíssimo,
Pode ser o começo ou o fim do mundo,
Ou o centro de tudo isso

Não sei se vou aguentar,
Meu fôlego está a acabar
Meu corpo não se sustenta,
Meus pés estão dormentes

Preciso descansar,
Afinal, eu sou o meu próprio concorrente
Vou telefonar pro meu empresário

-Alô? – empresário
-me mande dinheiro e calmante – Eu
-Pra quê? – empresário
-não aguento mais subir e descer.
Vou atingir o meu trajeto e construir uma escada rolante – Eu

Cheguei ao fim,
Bilionário, estou agora
A escada rolante me ajudou,
Mas não consigo ir embora
Pois estou longe do botão que diz:
 “VOLTA AO MUNDO REAL, PARE DE VIAJAR"


Gustavo Machado.

Cobiçada infância

Doce infância
que não volta mais
e inocente cobiça
por querer ser adulto

Tanta saudade sinto
dos meus tempos de criança
onde a maior responsabilidade
era a grande brincadeira de viver

A felicidade tomava conta de mim
corria em zig-zag,
pulava amarelinha,
jogava bolinha de gude,
andava de bicicleta,
jogava pião...

Era tão burro,
talvez todos pensassem assim
queríamos ser adultos,
dirigir nossos próprios carros,
namorar era nojento,
mas um tanto desejado
nossas vidas eram preparações
sem sentido para o envelhecer

Os problemas passavam longe
da terra nós éramos ímãs
queríamos nos sujar
sem se preocupar com o futuro
o presente era essencial
e fundamental, era somente nosso
Único

Da vida não sabíamos
mas não precisávamos
conhecimento não era preciso
queríamos apenas o intenso viver
e sermos felizes
Éramos pólos de energia inesgotável
nunca nos cansávamos
sempre tínhamos o chamego de nossos pais
o colo, na cama eles nos punham

Mas envelhecemos e perdemos
o grande sentido da vida:
viver
corremos pra cima e pra baixo
e a preocupação com os estudos
e com o trabalho florescem a cada instante
como uma bomba prestes a estourar

BUM!

A vida está indo embora
e nem ao menos experimentei

E como esse mundo é movido por contrários
nossa maior cobiça é ser criança
e a maior conduta
é a responsabilidade de viver

E vem casa, esposa, contas, dívidas
e nossos filhos queremos ser
e eles querem nos ser
mas não sabem o quão duro
 é ser adulto

Quem dera fosse mágico
como o Peter Pan eu queria viver
ser uma eterna criança
sem responsabilidades,
sem compromissos

Um dia vou construir
uma máquina do tempo
para voltar a viver
uma doce infância
de longe, objetivada em ser
ADULTO


Gustavo Machado.

Chuva

A chuva cai, cai, cai
e pinga, pinga, pinga


Cai em pé, corre deitado
goteira do céu, da nuvem


Cai, cai, pinga, pinga
chuva mole, molhada


Lágrima de Deus, bombeiro natural
chuva molha e mata a seca


Enche copo e enche rio
enche tudo, nada vazio


Chuva boa desce na rua
faz riozinhos, enchentes grandes


Nada vazio, nem esgoto
sempre enche com fartura


E estraga cidade que a destruiu
volta à essência na natureza


A chuva cai, mas que beleza
tira das ruas essa indelicadeza


Tira poeira, tira asfalto
cresce grama, cresce árvore


Deixa bicho viver em paz
dá água aos animais

 
E mostra pro homem
que isso já é assim
que a natureza não muda
e que, no homem, põe fim

Gustavo Machado.

Bailarina

Dança clássica
Grandes saltos
Passos longos
Encantador é ver uma apresentação

A paixão floresce dos olhos
De cada dançarino
E o toque na cintura dela
Levanta apenas com o poder da mente
A leveza da dança
E a delicadeza do bailarino
São inexplicáveis aos olhos do espectador

Errar a dança é como um crime
Um grupo inteiro está te seguindo
Como uma orquestra que não pode pecar
O erro gera efeito dominó
Mas errar é impossível
A dança sai da alma
Tudo é feito na hora
O improviso da arte mais bela

E cadê ela?
Cadê a bailarina mais bela?
Será um erro meu?
A platéia cairia aos seus passos
Cada pulo incrementava ainda mais
Sua perfeição
O seu giro é esplêndido, só na ponta dos pés
A sustentação daquilo é semelhante à de uma pluma

Mas cadê a minha amada?
Por que ela não dança?
O espetáculo não é o mesmo sem ela
Onde está a bailarina mais bela,
Cujos passos rejuvenescem
E seu beijo penetra-me
Como um sonho de neném?

Onde está ela?
Onde está o meu amor?
Ah! Lá está ela
Tão simples, tão bela
Tão leve, tão linda
Tão perfeita:
 Bailarina

Gustavo Machado.

À Vichiatto

(Gustavo Machado)

E da distância entrelaçada 
por pingos de chuva,
por pro frases do nada
como cachos de uva

Nosso amor se expande
do nada, por acaso
pela paixão constante
pelo destino, de fato

Amo-te tão intensamente
que ao nascer do dia
e ao fim da noite
em ti penso, profundamente

E tenho medo
que não sejas assim
que seu amor não é bastante
que não pensas em mim

Mas sei que é equívoco
pensar de forma tão ignorante
nossos corpos são a perfeita simetria
de almas brilhantes

De amor, de paixão
de desejos, nada em vão
pois possui em tuas mãos
o meu coração

E o teu em minhas
coração de vinhas
e tintos amores
regado de luxúria
sem complexos terrores

(...)

A ti, minha vida
e a mim, a sua
e a nossas, o amor

O prazer sem pudor
com profundo furor
por ti, meu eterno
AMOR!