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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Dois a Dois

A  mão errante
Entre os corpos não-distantes
E seus vapores entrelaçados

Fazendo cama para repousares
Ao ermo de alguns lugares
Inabitados por nenhum de nós

Desdobrando o meu afago
Em carinhos lascivos e pagos
Pela língua visceral e náufraga
Que arrebatou no porto de tua boca.

 - Ah, transa viva.
Fizeste semente
Somente da escarra terra que provieste.
                          (...)
Os corpos continuam naus
nus e somente
batizados pelo vapor condescendente
que fez podar os brotos da moral e do que foi prudente
germinando flores sedosas
perfumes cativos
 e pernas entrecortadas..

[ A bruta flor do querer houve de germinar...]

(João Paulo Martins Ferreira)


Quebra-cabeça (Polindo os Neurônios)


Desligou-se meus neurônios
Sebastião são como Antônios
e eu nem tenho heterônimos
pra tanta confusão.

O jogo da memória de imagens
destorcidas em ultrajes
com desfoco da realidade
que minha cabeça não consegue formar.

Eu monto, desmonto
fico tonto até o ponto
de achar-me embriagado.

Mas a cabeça não dá conta
meu neurônios já nem juntos estão mais
uni-los e poli-los preciso imediatamente. (isso é sério!)

Gustavo Machado


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Cobrir


Inexistir
Irromper prá – lá da barreira subjetiva do existir
Navegar errantemente por desertos e mares desconhecidos.
Emanar da luz um semblante de pureza sólida e, ao mesmo tempo, intocável
Tocar com a língua o céu
[da boca]

- Quando soares as grandiosas trombetas,
Estarás pronto para o abandono - Disse o longínquo sábio.
Caminharás descalço sobre areias e arestas
Esculpirás delírios com tuas próprias mãos
Transfigurando-se para além dos segredos da matéria.

Refazer e pagar
Ressurgir , desmaterializar.
Samsara dita o ciclo
E nós, reles e sedentos de saber,
Cultivamos as flores, a ponte, e os fantasmas.
para que estes sempre sejam grandiosos
e intocáveis por nós
mesmos.

(É tempo de libertação, quando outros estão descobrindo
os sabores da liberdade)

(João Paulo Martins Ferreira)


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Partes


Ascendente à luz do sol
Escrevi por traços o desatino
Desatei palavras ditas
 E reinventei o meu destino

Senti do morro a chuva cadente
Gota-a-gota  de um céu dormente
Fez-se mar e, de repente
Tudo estava ,deveras, diferente

O éden de Saturno
Rebuscado por delírios soturnos
Dobrou-se em mil sons hermeticamente medidos
Pois também eram esculpidos
Pelas mesmas mãos atadas.
                  (...)
O destino e o naufrágio
A linha curta e o conflagro
A solidão e os passos vagos
O amanhecer em pétalas-de-ouro
Do que sobrou do choro
São as mesmas lágrimas que ousaram faltar.

Fechei o livro
Senti a fenda.
E, da ponte do jardim transcendental, disseram-me os fantasmas.

- São jasmim. E ainda hão de florescer.
Pr´além  daqui.

                                    (João Paulo Martins Ferreira )

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Compra, Aluga, Empresta, Não vende


Aluga
Aluga-se
Alugue
O que estiver à vista
O que não for a prazo
O que não tiver rasgo
ou traço de invalidade

Compra
Compra-se
Compre
Aquilo que te deixa feliz
mas que não vale a felicidade
Aquilo que te deixa vivo
mas que não vale a vida

Empreste
Empreste-se
Empreste
A algo que te faz bem
A algo que você faz bem
À matéria, à anti-matéria, ao universo
Empreste
Sem prazo de devolução!

Gustavo Machado.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Ando Parado

Eis aqui uma poesia da qual gostei muito, de uma ilustríssima pessoa, chamada Lara Vichiatto:


Tanto faz
Tanto fez
 O amor não tem barreiras
Nem eira
Nem beira
Gosto do gostinho de gostar de você
Goste
Gostando
Sonhando que está voando
voar
ar
Ir atras de um esboço
poço
moço
Um olhar despreparado
para
 parado.

Gustavo Machado.



Sem Vida


A vida
vivida
sem vida
é sofrida!

Vendida
despida
com morte
sem sorte
com corte
sem vida!

Vestida
e corrompida
sem proza
sem liga
sem verbo
sem vida!

Dividida
em sílaba
sem vi
sem da
sem vida!

Gustavo Machado.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O Seco


Seco com um pasto
como um um chão rachado
como um fruto murcho
como um arame farpado
como uma árvore morta
como um galho
como um alho
como um chocalho.
simplesmente
seco.

O texto sem palavras
A folha em branco
O lápis quebrado
A fórmula seca.

A tinta alarmada
em tom preto
absorve
é seco.

O galho
O preto
O texto
O tempo
O seco.


O cateto
O oposto
A posto
A encruzilhada
O seco.


O desaguar
A inumidade
sem fresco
mas seco.

Secóia
Sequilo
Seco.

Seco.

Gustavo Machado.

Delirante Delírio de um Distúrbio Desconexo - Em título Faço Verso - Delírio!!


Delirante ser das 9 faces
das 7 caldas
dos 11 traços
que refugia em seu ego
os meus atos inerentes
perturbados
indecentes
incoerentes.

Foge de ti, serpente
com escondidas peçonhas
de escamas mescladas
em verde e amarelo
azul e branco.

Foge de mim, veneno avassalador
que corrói o meu nexo de ser
o meu controle de viver
a minha ideia, o meu ver.

Não quero paradoxos
nem paradoxais espelhos
de seja lá o que for: ventelhos

Não quero matemática
nem tática
nem sátira pra me resolver,
pois adquirir respostas
creio que não consigo,
pois tudo que vejo não é limpo
um traço, uma parede
até o céu borra uma nuvem
e o espaço borra o céu

Não quero matemática
por ela ser exata,
e se quisesse ser exato
não conseguiria,
pois minha matemática
é antipática

Quero o consumo de ideias passadas
sem verde
sem amarelo
sem azul
sem branco
não quero inovar
quero continuar no passado
preto
e
branco.

Quero Delirar
em delírios eloquentes
de pós-sonos matinais
um delírio
um visgo
uma faca
um gume
um delírio.

Gustavo Machado.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Anarquia


Bebo, fumo, compro, compro!
Bebo, como, compro, compro!
Mas não pago... Não, não, não
Não pago!

Sistema sistemático!
Consumo que me consome!
Pleonasmo é o caralho!

Fujo daqui, fujo dali!
Compro, compro... Mas não pago!

Não tenho dinheiro!
Não tenho vergonha!
Não tenho ação? Não, não, não, não (...)

Fujo daqui, fujo dali!
Compro, compro, compro (...)
Mas não pago!
Não, não, não... Não pago!

(Eduardo R. L. Vieira)