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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

À Vagina


Desinibido de todos seus pudores morais, certo de suas convicções ideológicas e necessidades carnais, ele sai na noite tão propícia para a busca daquele amor barato e efêmero, daquele momento único de sentir, de beber, de gozar. Sai sem rumo, mas com um objetivo, o de tentar saciar seu abismo interior que o corrói, tal como Roma, ao deixar os bárbaros sentimentos afetivos tomarem as rédeas de seu discernimento. O amor de dez minutos ou dez anos se esconde nas trevas daquela noite tão cativante. Escória masculina, ápice da libertinagem cafajeste, tão impuro da pureza feminina, do sabor, das curvas, dos orifícios. Tal busca se tornara o dilema de sua mundana existência naquele presente momento; a realização do desejo só faz o mesmo se esvair e assim, sucessivamente, uma após outra conquista frustrada de um desejo latente, se fecha nessa redoma promíscua, sabendo no fundo do peito que esses caminhos estreitos e molhados são os grilhões que o prendem às animalescas e prazerosas dádivas de um ser humano, imperfeito. Imperfeição que ao se olhar no espelho não é vista por ele, pois esta se entranha na sua carne de forma simbiótica, ele é aquilo, ele busca ser aquilo. O desprazer de um prazer mesquinho é o sentimento que preenche sua mente nebulosa na cama, diante do sono que o chama para tentar libertá-lo das garras da ressaca, uma tentativa frustrada de reavivar a moral já antes abandonada. Não consegue sair desse ciclo vicioso que se tornara o seu viver, pois não quer sair dele. É como beber de um veneno tão saboroso, que cada gole a mais faz com que se fortaleça a certeza da escolha em começar a bebê-lo. A doce amargura do viver intenso... No final da noite é tudo por ela.

(Eduardo R. L. Vieira)

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