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sexta-feira, 18 de março de 2011

Jardim

(João Paulo M. Ferreira)

Na ponte do jardim transcendental
Povoavam-no fantasmas turvos
Que caminhavam por entre as rosas e os lírios mal-compridos.
O orvalho e a fuligem salpicavam os galhos que, frente ao sol,
Entravam em processo de ressecamento.

Era o ressecar... ressecar.

Perguntei, um dia, à um fantasma:

- Se és tão transcendental, e admiras tanto este jardim, porque me trazes, de café, este copo de não-companhia ?

Dentre a fuligem, e o orvalho, o fantasma esvaneceu e minha resposta perdeu-se ao léu do jardim.

Decidi penetrar, enfim, o jardim que só admirava de longe. E lá vi os fantasmas, e a vasta beleza das orquídeas e dos lírios que os mesmos contemplava.

Decidi perguntar, de novo, à um deles:

- Porque me trazes, de café, um copo de não-companhia, se tu és tão puro quando observas este vasto e transcendental jardim

Obtive a resposta de um deles que colhia flores :

- Assombro-te. Serei permutável, pois, em toda tua vida. Não admitirei nenhum tipo de repulsa ou contraponto. Serei coercivo, condenando-te à loucura e ao desespero. Meu nome é simples, e minhas respostas nunca irão lhe fazer ver à luz. A não ser aquela, distinta de matéria, longe, longe do que se pode tocar.

Meu nome é imensidão, e o teu, pobre ser, é humano.
                                        
                         (...)


Os fantasmas ainda permeavam pelo jardim
As flores ainda eram colhidas
Do jardim, surgiam novos brotos, novas relvas, novas fuligens e novos orvalhos
Só não se diversificavam os fantasmas

Estes, ou a imensidão, eram imutáveis.

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